É humilhante constatar que, visto lá de fora, o Brasil não passa de uma monarquia bufa, onde abundam e pontificam reis e rainhas de tudo: o rei Momo e mais os reis e rainhas do futebol; da jovem guarda; do axé; do carnaval; do forró; do baião; do rock; da vela; da passarela; do pó; do tráfico; do contrabando; do descaminho; das licitações; da noite; do ferro e os respectivos reis de outros minerais; o rei do gado; da soja; do café; do cacau; do jogo-do-bicho; da cocada preta; da orgia; da bandalheira e por aí vão desfilando suas altezas e seus séquitos, pelos gabinetes, salões e passarelas do Brasil.
Obviamente, o Brasil da impunidade seletiva, que protege a guarda do dinheiro público nas cuecas e nos paraísos fiscais não é um país sério.
Nos países desenvolvidos, do Brasil só se tem respeito e admiração pelo MST e por alguns pensadores como Paulo Freire e ativistas sociais, como Chico Mendes.
Como um espelho d’água refletindo a lua, o Grampo tem Paulo Freire como mentor. Sua luz nos inspira, enriquece, consola e encoraja.
Como Paulo Freire, lutamos pelo sonho, pela utopia, pela esperança, porque também entendemos que o utópico não é o irrealizável, nem o idealismo, mas a dialetização dos atos de denunciar e anunciar. O ato de denunciar a estrutura desumanizante e de anunciar a estrutura humanizante. Nesse sentido, a utopia também é o nosso compromisso histórico.
Guiados pelo nosso mestre, aprendemos que não se pode sonhar em favor de alguma coisa, sem sonhar contra a coisa que impede a realização do nosso sonho. Sabemos claramente com o que sonhamos e a favor de quem sonhamos. Quem se beneficia com o nosso sonho? A burguesia que explora, ou a massa explorada, condenada ao sofrimento?
Fazendo nossas as palavras dele, também sonhamos em ajudar a construir uma sociedade menos feia do que a de hoje; uma sociedade menos injusta e que tenha mais vergonha.
Na cartilha onde aprendemos a ler não se escreve “a asa é da ave”. Na nossa escola ninguém vem receber instruções, postulados, receitas, ameaças, repreensões e punições, mas construir coletivamente um saber.